Médicos afirmam que mototáxi em SP potencializará acidentes de trânsito com motos; Belo Horizonte, por exemplo, registrou aumento de 22% de internações hospitalares
Quando se fala em reabilitação de vítimas de trânsito, ninguém melhor que os médicos dos hospitais que tratam sequelas decorrentes dos acidentes que mutilam pessoas, para explicar o assunto.
Eles, aliás, são categóricos quando afirmam que o mototáxi em São Paulo poderá ocasionar não só mais mortes e pessoas com sequelas permanentes, como lotar hospitais e congestionar o Sistema Único de Saúde (SUS), com as internações, o que resultaria numa tragédia para a população já carente de atendimento.
Enquanto as empresas que desejam explorar o serviço de transportes de passageiros ficam milionárias, o SUS, que receberá as vítimas dos acidentes, enfrentará alta demanda de pessoas e irá onerar o município de São Paulo, bem como o governo estadual, com uma conta que não é deles, sendo penalizados pelos custos de perda de uma vida ou decorrente das internações.
“Se usarmos o exemplo de Belo Horizonte, que, em seis meses de mototáxi registrou 22% de aumento de internação dos leitos, imagina São Paulo, que tem a maior frota de motocicletas do Brasil?”, questiona Aquilla Couto, Diretor da Associação Brasileira de Medicina do Tráfego (Abramet).
Nesse contexto, de caos generalizado no SUS, mais vítimas serão levadas aos hospitais públicos gerando uma reação em cadeia que só aumentará, por conta da alta procura pelo serviço de quem prefere um transporte mais rápido que o transporte público; da falta de qualificação profissional dos motociclistas e, principalmente o desrespeito das leis pela empresas de aplicativos, como 99Motos e Uber, que insistem na oferta do serviço.
“A adoção do mototáxi nas vias públicas da capital pode significar um aumento catastrófico dos gastos em saúde”, diz Linamara Rizzo Battistella, Professora titular de fisiatria da FMUSP e idealizadora da Rede Lucy Montoro, especialista nesse tipo de trauma.
Só para ter uma ideia em relação a fala destes especialistas, atualmente 47 motociclistas em São Paulo, capital, aguardam cirurgia, 253 estão em Centros de Reabilitação, 17 são atendidos em suas casas e 483 morreram em 2024.
Ainda citando relatórios médicos, entre janeiro e setembro do ano passado, 50% das vítimas de acidente de trânsito atendidas nas unidades da capital foram motociclistas. Nesse grupo, 88% dos casos aconteceram com homens e 76% tinham até 45 anos, sendo que 54% se tornaram paraplégicos ou tetraplégicos e 26% sofreram amputação.