Acalme-se, reduza a velocidade. Respeite nossa cidade

Está em execução numa cidade brasileira um grande projeto de Mobilidade Urbana chamado Plano de Desenvolvimento Integrado (PDI). O objetivo é a expansão do transporte público e a melhoria da segurança no trânsito, principalmente para pessoas em situação de vulnerabilidade. Investimentos em transporte público e regras mais rígidas com a redução da velocidade em áreas centrais e residenciais já são usuais na Europa e são diferenciais para um trânsito menos letal. Por que defendemos a redução da velocidade no centro? Há estudos que nos mostram variáveis da probabilidade de sobrevivência do pedestre no caso de atropelamento em várias velocidades.

A Curva de Ashton é um gráfico amplamente conhecido e relaciona a velocidade veicular à ocorrência de óbito. Foi elaborada em 1992 e até hoje é utilizada mundialmente pelos Departamentos de Trânsito, profissionais da área e especialistas. Ela nos demonstra que, naturalmente, quanto maior a velocidade, menor a sorte do pedestre. A probabilidade de uma lesão fatal quando a velocidade é de 50 km/h é de 40%, quando a velocidade é de 60 Km/h, velocidade regulamentada em nossa cidade, o percentual de óbitos vai a 60%. Já a 90 km/h, a probabilidade de óbito em caso de atropelamento é de 100%. Mesmo cientes da relação Velocidade X Óbitos, continua a prevalecer em determinados setores do trânsito e por meras questões políticas, uma perigosa ambliopia (visão preguiçosa) que desvia uma avaliação rigorosa sobre o assunto, minimizando a importância de preservar vidas.

Creio que a velocidade ideal para nossa cidade, em sua área central, que corresponde ao antigo calçadão, é de 40 Km/h. Para analisar a diferença entre os 60 km/h regulamentados no restante da cidade e os 40 Km/h propostos para o centro, é o mesmo que bater um carro em um muro a 20 km/h. Esta é a diferença. Logicamente existem variáveis, como o tempo que o motorista demora para frear, o peso do carro, etc., mas na prática, a diferença é esta. Outro estudo, este elaborado pelo Departamento de Trânsito de Londres, demonstra que a 32 km/h o atropelamento leva a óbito 5% dos pedestres.

A 45 Km/h, óbito em 48% dos pedestres e a 64 km/h, 85% dos pedestres atropelados vão a óbito. Tudo isso num cenário ultramotorizado, que destoa da tendência mundial de ganhar espaços urbanos para as pessoas, como nos mostra a notícia da ‘decisão de cidades européias de tirar os carros das suas regiões centrais, um dia por semana. Teoria a parte, nossa função é salvar vidas e além dessas variáveis, a diminuição de limites de velocidade é uma recomendação da OMS (Organização Mundial da Saúde).

Por Dr. Jack Szymanski – Presidente Eleito da International Traffic Medicine Association (ITMA).
Membro Conselheiro da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (ABRAMET)

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